quarta-feira, 27 de maio de 2015

Educação: entre a vocação e o descaso



Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Venho de uma daquelas famílias que respiram o magistério.  Sempre fui professor, minha mãe e meus tios eram professores. Durante anos ensinei na licenciatura, formando futuros professores. Greves e manifestações de professores não podem deixar de mexer comigo.
Minha mãe dizia que nunca faria greve, porque seus alunos tinham direito de aprender e não podiam ser penalizadas pelos erros dos adultos. Para ela, o magistério era um sacerdócio, uma vocação de doação às novas gerações.
Na universidade, um de meus professores, um dos marxistas mais bem preparados do curso e sempre coerente, escandalizou-nos ao dizer que era contra greves na educação. Greve, dizia ele, é para quem dá prejuízo ao patrão deixando de produzir. Se professores e alunos não produzem, os prejudicados são eles mesmos e a sociedade. Portanto, o que devem fazer é trabalhar e estudar ainda mais, para que o estudo seja realmente um instrumento de transformação da sociedade.
Diante do descalabro da educação no País, das más condições de trabalho e remuneração dos professores, tanto minha mãe como meu professor se posicionariam favoráveis aos protestos de seus colegas atuais e se mostrariam indignados com a repressão violenta que suas manifestações recebem em alguns casos.
Os professores não podem ficar calados diante da situação que está aí. Porém, anos de repetidas greves e manifestações pouco tem feito pela situação docente.
Ao mesmo tempo, as promessas e os planos dos governos têm tido sucesso na expansão do acesso à escola, mas pouco influem na qualidade da educação. Estudos internacionais, como o ranking mundial de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), recém-divulgado, colocam o Brasil em 60º lugar entre 76 países. O PIB de uma das nações mais ricas do mundo e a qualidade de educação das mais pobres!
Um sistema injusto penaliza os trabalhadores não apenas explorando-os com salários baixos e cargas de trabalho desumanas. Ele também os penaliza destruindo o sentido do trabalho, fazendo com que deixe de ser ocasião de construção da humanidade do trabalhador para se tornar apenas “coisa” a ser trocada no mercado.
Para minha mãe, educar era um ato sagrado, que enchia sua vida de sentido e sabor e a aproximava de Deus. Para meu professor, era parte de sua luta para transformar o mundo, e como tal também era ocasião de realização pessoal. Hoje, sei que muitos de meus ex-alunos gostariam de viver a docência assim, mas até esta possibilidade lhes foi tirada – tanto pelas más condições de trabalho quanto por uma mentalidade que esvaziou o sentido da educação.
Outras pesquisas têm mostrado que a educação é uma das maiores preocupações da população brasileira. Mas qual é o apoio que as pessoas e os movimentos sociais dão aos professores, quando estes reivindicam melhores condições de trabalho, ou às escolas, que estão em condições materiais e humanas críticas? Escolas que contam com mais interação e apoio da comunidade (presença pais e familiares, participação dos estudantes em atividades comunitárias, etc.) obtém resultados melhores do que outras que estão em situação semelhante, mas não tem este apoio.
Poucas profissões têm, como a educação, este caráter de “vocação”, de chamado para uma missão de dedicação às pessoas e transformação do mundo. Esta é uma riqueza que os professores não podem perder, que o Estado deve sustentar com políticas educacionais adequadas e toda a população deve apoiar com reconhecimento e colaboração.

Jornal “O São Paulo”, edição 3052, de 20 a 26 de maio de 2015.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Girl Rising: Filme mostra como a escola mudou a vida de meninas em 9 países

Lançado em março de 2013, o filme "Girl rising" conta a história de nove meninas de 7 a 16 anos que vivem em comunidades de países pobres (Camboja, Nepal, Índia, Egito, Peru, Haiti, Serra Leoa, Etiópia e Afeganistão) e lutam pela oportunidade de ir à escola.


Dirigido pelo indicado ao Oscar, Richard E. Robbins, o filme é produzido pela aclamada produtora Martha Adams e narrado por atrizes renomadas, como: Meryl Streep, Anne Hathaway, Kerry Washington, e Selena Gomez. Cada uma das nove histórias é contada por um roteirista renomado em seu próprio país.



Girls Rising mostra a força do espírito humano e o poder da educação para mudar uma menina - e o mundo. Milhões de meninas enfrentam barreiras que os meninos não precisam enfrentar para estudar. E de acordo com Justin Reever, um dos produtores do documentário, o filme mostra que dar às garotas acesso à educação é uma maneira de "quebrar ciclos de pobreza, acabar com longas tradições de injustiça e educar filhos e filhas de maneira igualitária". Nele, são contadas as histórias de garotas como Azmera, uma etíope que, aos 13 anos, se recusou a casar à força, Ruksana, uma menina que vivia nas ruas da Índia e cujo pai se sacrificou para garantir educação à filhas, e Wadley, uma menina de 7 anos que mora no Haiti e, mesmo sendo rejeitada pelos professores, volta à escola todos os dias para exigir seu direito de estudar. As outras protagonistas do documentário são Senna, uma poeta do Peru, Sokha, uma órfã do Cambódia, Suma, uma musicista do Nepal, Yasmin, uma pré-adolescente do Egito, Mariama, uma radialista de Serra Leoa, e Amina, que vive no Afeganistão.


Apesar de as histórias mostrarem vidas difíceis e impactantes, o filme traz uma mensagem de esperança.



Em uma pesquisa em vários países, os produtores de "Girl rising" visitaram diversas comunidades pobres para entender as causas da miséria e as alternativas e soluções para o problema. "Em comunidades presas em situações de pobreza, o que a gente encontrava é que havia muitas maneiras de acabar com esse problema, mas uma solução simples era educar as garotas", contou Justin em entrevista para o G1, em março de 2013. Foi assim que surgiu a ideia de encontrar e retratar histórias de meninas que ajudaram a transformar sua comunidade depois de receberem a oportunidade de ir à escola.

A escolha final das nove protagonistas foi feita pelas nove escritoras contratadas como autoras de cada capítulo. Elas também eram dos mesmos países e foram escolhidas para produzir os roteiros. As filmagens aconteceram entre 2010 e o fim de 2012. Ainda de acordo com Justin, o diretor Richard Robbins usou nove técnicas cinematográficas diferentes para dar a cada história um toque específico. O capítulo de Senna, a adolescente peruana estimulada por seu pai a se dedicar aos estudos, foi filmado em preto e branco, por exemplo. Ao contar a história da radialista Mariama, foram usados efeitos de animação.

Dirigidas por Richard Robbins, as protagonistas parecem atrizes experientes. "São lindas, talentosas diante da câmera, nos surpreenderam", elogia Justin. Para ele, apesar das situações sombrias ou perigosas, o filme não é triste. "Essas resilientes têm esperança e olham com beleza para a vida. O documentário deve ser visto assim." Há dez anos, Justin trabalhava no Equador, Chile e na Argentina com iniciativas de combate à aids quando percebeu que mulheres que recebem educação mudam a comunidade. "Quando soube do projeto de Girl Rising, me entreguei: tinha ligação com minha paixão por contar histórias. Aprendo com essas garotas e me emociono com o impacto que causam nas plateias." 

Fruto de uma parceria com o canal CNN, patrocinado pela empresa Intel, o filme foi lançado no Brasil em DVD em 2014, e também pode ser assistido pela Netflix. Um capítulo foi disponibilizado pela campanha global 10x10, que instituiu o Dia Internacional da Menina, em 11 de outubro. "Queremos que igrejas, ONGs e escolas discutam a educação." Basta acessar http://girlrising.com/see-the-film/index.html#watch-sennas-story para assistir o capítulo que conta a historia de Senna.